A partir desta primeira peça teatral, “O Sapatinho de Setim” (1876), muitas outras se seguiram:
“A Varina” (1877)
“Os Missionários” (1879)
“ Fló – Fló” (1880)
“A Mantilha de Renda” (1880)
“A Chilena” (1884)
“As Nadadoras” (1884)
“A Madrugada” (1892)
“A Congressista”
“A Mosca”
“O Burro do Sr. Alcaide”
“Médicas”, de colaboração com Gervásio Lobato
“O Burro em Pancas”, de colaboração com D. João da Câmara, Lopes de Mendonça, Eduardo Shwalbach, Moura Cabral e Batalha Reis.
Num artigo de 1986, publicado no Diário de Aveiro, o Dr. Deniz Ramos dá conta de uma peça desconhecida que vem acrescentar a lista bibliográfica de Fernando Caldeira – trata-se da tradução da comédia em 1 acto de François Coopé, “Le Passant”.
O estudo aprofundado da obra teatral de Fernando Caldeira está por fazer. António José Saraiva e Óscar Lopes incluem Fernando Caldeira num leque de autores que levam a nossa dramaturgia pelos caminhos da imitação do teatro romântico e realista francês, muito ao gosto da época e divulgado por companhias que frequentemente vinham a Lisboa.
O grande êxito do teatro de Fernando Caldeira ficou, de facto, a dever-se à interpretação das suas peças pelos actores mais famosos da época: Eduardo Brazão, Virgínia da Silva, Rosa Damasceno, Augusto Rosa e outros. A revista “Ocidente” refere “As Nadadoras” como “… um dos mais belos e completos trabalhos” de Eduardo Brazão: “… ao lado dos dramas em que reconhecemos que Brazão é positivamente um grande artista não podemos deixar de colocar as comédias, a “Vida Íntima”, “As Nadadoras”, as últimas em que os vimos e em que ele é incontestavelmente um actor hors ligne, um comediante como dificilmente se encontra igual”. É de facto, graças ao espantoso talento de um leque considerável de actores que o teatro português da época, incluindo o de Fernando Caldeira, conhece tanto êxito e que, no dizer dos já citados António de José Saraiva e Óscar Lopes, consegue, apesar do carácter imitativo e da qualidade discutível dos textos, “possibilitar um último florescimento digno de nota da nossa dramaturgia” (isto à data da publicação da “Historia da Literatura Portuguesa”, dos referidos autores, mas que continua a ser um importante ponto de referência).
As peças de Fernando Caldeira eram, de facto, comédias galantes, e não resistimos a referir que, no dizer de D. João da Câmara, Fernando Caldeira, para escrever “A Madrugada” , se vestiu de casaca e pôs luvas brancas para conseguir um clima adequado ao mundo ficcional que pretendia criar e onde se deveriam movimentar as suas personagens.
Já dissemos que toda a escrita de Fernando Caldeira é considerada como uma escrita lírica. Mas como poeta lírico, assumido, ele publica apenas um livro: “Mocidades”, em 1882.
Como abertura apresenta uma tradução livre de Alphred Musset, um dos grandes nomes do Romantismo francês. É uma espécie de prefácio ou, se quisermos, de pré-texto em que induz o leitor para uma linha de lirismo intimista que atravessa os seus poemas, com uma certa tendência sofredora que parece pender para o ultra – romântico. Termina assim o referido poema:
“Fazer pérolas do pranto…
Eis a aspiração completa
A vida, a paixão do poeta”
António José Saraiva e Óscar Lopes incluem o livro “Mocidades” num conjunto de obras e autores que cultivam um “lirismo erótico e íntimo” mas “intelectualizado ou mundanizado”.
De qualquer modo, alguns dos poemas incluídos em “Mocidades” foram bem conhecidos na época e em décadas posteriores. É o caso do soneto “Vida” e de “Penas”, este último incluído num manual escolar e decerto ainda na memória de muitos.
O soneto “Vida” é referenciado por Maxime Formont, no livro que ofereceu ao rei D. Carlos I, intitulado “Le Mouvement Poétique Contemporain en Portugal”, como um trecho que bastaria para fazer a reputação de um poeta e que poderia ter sido assinado por João de Deus.
Também poeta de circunstância e notável diseur, Fernando Caldeira não só abrilhantou com a presença e a sua escrita as reuniões aristocráticas da capital, como esteve atento a acontecimentos que merecem a suficiente atenção da sua sensibilidade poética para os passar a verso. Aqui se inclui o terramoto da Andaluzia, em 1885, que, pela sua gravidade, mereceu o constrangimento de toda a sociedade da época, mas foi também motivo de celebração musical e literária, como espectáculo de apoio, na sede do Correio da Manhã, onde, mais uma vez, sobressai o homem e o poeta Fernando Caldeira. É noticiado pela revista Ocidente, em texto e imagem.
Os êxitos sucederam-se, até que a morte surge, demasiado cedo, em 2 de Abril de 1894. A relação do poeta com a morte é complexa e merece alguma reflexão. Vale a pena voltar a citar o médico Dr. Mateus Pereira Pinto, que, ao tentar caracterizar a personalidade de Fernando caldeira, a partir das muitas conversas que com ele travou, dá especial relevo ao seguinte:
“ Com que fé ele falava e tratava de tudo o que dizia respeito a hipnotismo, espiritismo, transmissão de pensamento de que ele era um crente sincero!… Chamarão a esses indivíduos visionários, mas a ciência já hoje não impugna esses fenómenos, cuja explicação espera em breve fazer-se.
Esses visionários d´hoje, espíritos sublimes, que podem libertar-se para os páramos de desconhecidos, ainda hão-de chamar-se – precursores – Ciência do futuro, quanto hás-de desvendar à nossa limitada inteligência?!!!”
(in Soberania do Povo de 29/12/1907)